terça-feira, 24 de maio de 2011

Não deixe que a dor do Alzheimer te mate!!!

Não deixe que a dor do Alzheimer te mate

È um poço sem fundo, um estado de melancolia, cansaço físico e estresse.

Lembra bem o trecho da Música “...é pau é pedra é o fim do caminho”

Uma imersão a conceitos e valores antes desconhecidos, é o novo, o arriscado á flor da pele, é o êxtase, as ondas de um mar raivoso, o desamparo, a melancolia,  a estagnação da dor no diagnóstico.

A figura do CUIDADOR sem se lembrar antes do compromisso perante a espiritualidade de lidar com seus pais na fragilidade orgânica da doença instaurada, também não deixando de ser a provação ou expiação cujo determinismo estava escrito nas estrelas.


Revestido em sua função, o cuidador solitário pode estar no meio de uma multidão, com familiares queridos e  auxiliares,todavia,  ele sempre será sozinho, sempre estará numa ilha deserta.

Seus sentimentos se mesclam entre o cansaço e a agonia de ver seu ente querido morrendo fisicamente lentamente em suas várias fases e  em muitos momentos ele não saberá literalmente o que fazer , seus pensamentos antes seguros e com resquício de discernimento, estão enveredando para a dor, a raiva de si próprio, de amigos e até mesmo de familiares.

Só quem passa por esta provação do final do túnel sabe, por mais que queria restituir a saúde, de todas as maneiras do ser amado, é um caminho sem volta

A tristeza, solidão, desespero podem formatar seu cotidiano.

A melancolia, a falta de refúgio para possível distração mora ao lado e não ocupa ou divide o mesmo ambiente do cuidador, estes desejos de liberdade não pertencem mais a ele que navega por mares cujas profundezas contidas neste afogamento de uma realidade que bate violentamente em seu rosto

A quem recorrer? A quem gritar por socorro? Seu amado familiar está perdendo a força física, os movimentos, o sorriso que se apagou no passado e desmascara a nudez do olhar perdido.

Onde está a criatura que sorria, piscava, embalava-nos no colo com segurança? Trocava diálogos repartia o pedaço de pão igualmente entre os filhos, que constituía o seu lar de cheiros e flores.


Onde está ele agora? Afundando-se na doença, na dor de uma saúde perdida, desaparecida e olvidada;

Conviver com a fraqueza orgânica do familiar paciente, da mãe ou pai agora ausente totalmente física e mentalmente é um retrato na escuridão, você vê, sente mas não suporta a dor.

Por mais conhecimento teórico sobre a doença, mais expectativas de suportar as fases que ainda tem, o cuidador se esbarra na vivência pesada, dura e desnuda do seu sofrimento interior.


Não é rebeldia, os gritos íntimos não são manhãs de amador, são dores maiores que consegue suportar.

Não é carregar alguém no colo com 100 Kilos, é carregar os 100 kilos em seu coração.

È um grito sem testemunha, é a quebra da espinha dorsal de seus sentimentos mais elevados, o familiar cuidador sofre a perda , a sepultura não está fechada, ao contrário está retida em seu intimo.

È doloroso ver o familiar paciente amado passando por metamorfose física e espiritualmente se desligando do seu aparelhamento desgastado pela doença e pela idade.

A quem berrar o socorro da alma, entalado na garganta, no eixo de uma esfera de temores e inseguranças.

Não é um objeto que você está perdendo, é o tesouro que você conviveu a sua vida inteira, que iniciou a convivência no berço, entre a saúde no relacionamento que te envolveu em grandes lutas para seu sustentáculo, para sua formação envolvendo e tecendo sua liberdade de viver e amar, é o próprio ser que te confiou a vida que está escapando de suas mãos, carregando seus sonhos, lutas de anos de convivência entre a saúde do passado e a doença de Alzheimer completando anos de cuidados, começando pelo diagnóstico mais filial do que clinico, e a rotina de : cremes, banhos, fraldas, alimentação envolvendo os cuidados intensos e diários, e sem anunciar oficialmente chega o Alzheimer da última fase.

Ele dói, intimamente dói. Mas não o deixe te matar.
Tudo é para nosso crescimento íntimo, essencial para o fortalecimento de nossa escala de valores espirituais.

Rosana Nied
2011





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