sexta-feira, 18 de junho de 2010

A DÁDIVA - MINHA ESTRELA


Quando nasci senti um arrepio e um cheirinho confortante no colo da minha amada mãezinha, ela coitada trabalhava noite e dia costurando para um monte de gente.
Quando estava mais crescidinha a ajudava a achar a agulha que teimava em cair no chão do quarto em baixo da máquina de costura.
Sentia-me uma heroína cada vez que achava a agulha.
Depois fui aos poucos despedindo de meu pai que adorava um rabo de saia.
Foi engraçado amar tão loucamente um homem que se dividia.


Com minha mãe presenciei um dia a separação inevitável, e foi uma discussão na frente do juiz e eu interagia, puxando a sardinha para o lado da parte mais fraca, minha mãezinha.
Acreditem que já adolescente ela me dava comida na boca? Eu detestava o tal espinafre que ela insistia em me dar, era a anemia.


Por volta das férias do interior, eu brincava, nadava e corria, caminhava pelos sítios alheios e nadava nas piscinas, riachos e açudes, quando aí ela falou para um médico, primo distante
-O que fazer com esta menina que tem anemia?
Ele olhou, olhou e disse
_ D Lair, ela está toda corada, forte e robusta, acho que de anemia esta menina não tem nada.Mas quando chegava de férias, ela ficava preocupada com minha palidez


De criança, no ginásio me fazia decorar lição para eu poder andar por aí descompromissada nos sítios das amigas.
Obrigou a professora de matemática a não me reprovar, que dureza fazer cálculos , mas mesmo assim a bondosa professora me aprovou, acredite que mesmo estando colando a prova que ela me deu do melhor aluno, ainda assim, errei todas as continhas.
Santa paciência, a professora relevou e me aprovou, tinha muita amizade com a D Lair, brava que só ela.
Assim foi indo até o dia que precisamos nos isolar em São Paulo, ficar longe de todos para enfrentar a cidade grande e divorciada me dar o sustento da faculdade.


Um dia véspera de Natal eu queria o tal peru, aí caí na real quando ela disse: se comprar o peru não dá para o dinheiro para o gás.
Santa Benedita que raiva, tinha que fazer opções, poxa vivia uma vida boa, filha de militar aposentado da aeronáutica e agora , eu e ela sozinhas, matando cachorro a grito.


Mas meu pai estava ainda correndo atrás de rabos de saia e não se ligava na situação precária da ex mulher e da filha.
Porém,ela insistia em sair do pequeno apartamento que pagava aluguel e ir para a periferia de São Paulo, aonde tinha umas casinhas e do aluguel garantir meus estudos.


Fui chorando, não merecia aquilo tudo, sair de uma cidade para outra, mudar de casa , de apartamento e me virar num bairro de periferia, mas a vida é assim mesmo, dias bons e dias ruins.
Esta Leoa da minha mãe , enfrentou chuva e sol, mas eu grudava nela e ela em mim.


Praticamente sozinhas, brigamos muito, mas sempre juntas, até o dia que me casei, e parece que ela agradecia ao mundo por eu estar crescendo.
Dizia que dos meus filhos não cuidava, já tinha cuidado dos dela.


E assim, mesmo assim, foi sempre presente na minha vida, como eu na dela.


Filha de italianos, pai e mãe, avós maravilhosos, minha avó era doce e meiga, cobria minha carência.
E assim passados os anos, ela se julgava a dona do seu mundo, quando num tropeção virou a minha filha.
O resto da história é conhecido, mas hoje eu sinto que meu útero doeu, , desligar-me de quem eu amo, dói demais e pesa na alma, ela esta tão linda, ela é minha mãe, e eu nem merecia, tamanha formosura nos braços que acompanhei como Deus assim o quis, minha mãe foi embora, uma lástima, mas assim é a vida


MORRER
RENASCER
VIVER
E amar por que tem amores eternos, e este amor é marcante.
Obrigada minha mãe, obrigada por tudo e quando um dia nos reencontrarmos vai ser uma farra, de luzes, abraços , beijos, choro e alegrias !!!!






Luiza Lair 1926-2009

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